domingo, 8 de fevereiro de 2009

Meio-pária

Senta, cumprimenta e escuta um pouco a conversa. Vinte minutos depois, arranja uma desculpa vaga para se afastar e sai para andar um pouco. Até a próxima praça de conhecidos, onde fará o mesmo. E tem sido assim desde de quando se permite lembrar, de um lado a outro, aceito e distante de tudo que a vida lhe pôs pela frente.

É daqueles que sabem de tudo um pouco, dos nômades que não têm casa nem vida fixa - com a diferença de que sua andança se dá menos em espaço físico e mais no mental. Como que filho de duas nações rivais - possui as qualidades de ambas e a confiança de nenhuma.

Seus semelhantes assim o são por não serem semelhantes a alguém. Sua diferença não é por habitar o extremo, ou pelas qualidades incomuns, mas pela versatilidade, ao assentar-se bem em qualquer lugar, sente-se incomodado a todo instante.

Li em algum lugar sobre o problema da escolha entre os cem caminhos: se dentre cem caminhos, pode-se escolher apenas um para seguir a vida, surge a nostalgia dos outros noventa e nove. Há o centésimo primeiro, que passeia por todos os outros e não trilha nenhum. E se, para um caminho, não ter fim é uma vantagem, TALVEZ ele não seja de todo mal

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Amanhã

Qual deles?

Pois é, existem dois: um feto de hoje, ainda por nascer, florir, murchar e morrer; e um outro, intangível, portador das soluções, banhado em tempo disponível e boa vontade.

Uma pena que esse segundo nunca chegue - só existe no plano das idéias. É para tal amanhã que deixamos nossos projetos mais ousados, nossos problemas mais complexos. Acontece que, no dia seguinte, ele continua sendo amanhã.

Para o outro, fica a mesmice, a eterna função de substituir o hoje do modo mais fiel possível. Tempo depois não passa dum mero ontem superado, folha seca no chão.

O 'segundo amanhã' está pro futuro assim como o 'se' está pro passado. E aquele do qual fala Guilherme Arantes, fica só na clave de sol mesmo.