sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Coliseu

Papel, caneta, corretivo, lápis, borracha, apontador, durex. Janela aberta, cortina fechada, livros e almofadas em seus devidos lugares, mesa limpa exaustivamente com álcool, despojada de enfeites. Reina o silêncio - tudo pronto.

Ele posiciona seu equipamento num estojo, fixa com durex o papel na mesa, puxa a cadeira para sentar, acende a luminária que, em sua armação de haste flexível com cabeça em globo, mais parece um olho a observar o quer que lhe ordenem observar.

Tudo pronto. Olha para o papel, caneta em riste, coça a cabeça, solta a caneta. Estica as costas, estala os dedos, olha o papel, suspira. Ergue novamente a caneta: agora é só começar.

O vazio da folha espera com um olhar de desdém enquanto seu algoz reúne coragem para desenhar a primeira letra. Este balança a cabeça numa expressão agoniada, maldito relógio, levanta e vai à cozinha, deve ser fome. Volta , senta, morde os lábios, o telefone toca. Quando? Hoje às oito? Certo, vou sim.Tá, tá, eu trago.

Desiste, recolhe o estojo, recoloca os retratos,mas deixa o papel ali, preso, soubesse desenhar faria o sorriso debochado que ali sente...

5 comentários:

  1. Nostalgia?

    Há outro tipo de frustração não comentada no texto: quando algo aparentemente de simples significado se mostra impenetrável. A eterna dúvida entre o 'foi confuso' e o 'sou um idiota'.

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  2. Passei momentos exatamente iguais ao descrito por você, o mínimo que se passa comigo quando leio, é nostalgia... Acho que sua resposta ao meu comentário deveria fazer parte do texto, não que não esteja perceptívelmente implícita, porém, acho que deveria fazer parte fisicamente. É talvez a parte mais interessante do texto.

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  3. Legal. Discorda do quê? E porquê?

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