segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Wouldn't it be nice

Sento.

Por ora, meu nome é Robinson e estou perdido numa ilha, mas vou sobrevivendo: montei minha cabana, de comer aqui não falta, dei meu jeito de lidar com os canibais, mas não vejo a hora de voltar pra casa.

Canso, desvio os olhos do papel e miro uma coisa mais luminosa. E barulhenta. Eu e cinco amigos muito próximos, morando num mesmo prédio, a vida é uma brincadeira com intervalos pra discussões absurdas e comercial. Noutro momento, me sinto forte e só, em território inimigo, esta faca é tudo em que confio. Tiros, corro... corro... e aquela música começa, olho pra trás, as crianças me seguem, estou quase chegando - já vejo a praça, subo os degraus aos saltos, consegui! Consegui e estou todo suado por causa do esforço, mas valeu a pena: é uma morena e tanto! Agora aquele beijo com direito a cenário paradisíaco e tudo vai escurecendo...

Desligo a tv assim que os créditos reclamam seu espaço. Volto a ser o sujeito mirrado e nada heróico da vida real. Silêncio e angústia pesam feito minhas pernas no sofá. Porém há algo pior do que 'viver' o que não se pode ser - lembrar o que poderia ter sido...

E se...?

11 comentários:

  1. Tenho muito a comentar sobre esse texto, porém depois dos comentários do mayko(principalmente o "discordo"), fico com medo da boçalidade que pode ser escrita logo abaixo do meu comentário.

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  2. Cara, criticar é válido. Chamar de 'boçal' beira a agressão - desnecessário. Se te desagrada, ignora e diz o que você pensa sobre o texto, não precisa dialogar com todo mundo.

    Tendo muito a comentar, solta logo.

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  3. Eu ia comentar sobre o que o mougor escreveu, mas como não estou aqui para prestigiar comentários alheios, e sim o seu blog, prefiro me sujeitar a comentar somente o texto.

    Eu fico sempre impressionado com a sua capacidade de transformar o cenário em algo palpável, mesmo que este seja quase intangível. A TV por muitas vezes toma o lugar dos livros quanto a essa função de "puxar" o leitor para o ambiente em que a estória se desenrola e isso, ao meu ver, possui um lado negativo muito forte: as pessoas estão tendo menos interesse na leitura, visto que a TV é um veículo de informação em que não se necessita de esforço para entender, tão "mastigado" que já se apresenta.

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  4. Sabe aquelas leituras que nos marcam, mas nunca iremos lembrar quem foi o autor? Certa vez li que aquele que escreve é uma pessoa insatisfeita. Concordo plenamente... mas talvez quem lê/assiste também o seja. Sem querer lançar um discurso pessismista, mas acho que a nossa capacidade de imaginar avançou tanto que deixou o real defasado, ou melhor, sacal. Não me parece estranho que troquem tanta coisa por uns instantes de delírio, seja do tipo que for...

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  5. Pode até ser, mas você não há de discordar que uma obra literária também pode proporcionar um momento de delírio, não?

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  6. Sim, sim, claro, está incluso no pacote. Mesmo que,como você mesmo disse, exija mais esforço.

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  7. Agora falando do que realmente interessa, concordo com a questão do delírio, porém tenho a convicção que a abertura/liberdade que o livro dispõe ao leitor, é praticamente inalcançável pela TV.

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  8. Acho bizarra também a questão do "E se..."
    Mesmo que certas questões históricas me levem a fazer este questionamento algumas vezes, é um tanto quanto problemático se levado como filosofia de vida... Não é muito complexo achar uma pessoa que carregue este questionamento consigo por toda a vida, as vezes se apoiando na via e experiências dos mais próximos, o que torna a questão ainda mais problemática.

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  9. Não tinha visto. Net discada é uma maldição.

    É, se por um lado há uma liberdade maior de imaginar - na tv já vem tudo pronto, o envolvimento na tv é muito maior, diria 'o dobro', já que afeta o dobro de sentidos. Admito que não vejo problema nenhum em ambos. Arrisco a dizer que muito da nossa defesa aos livros é puramente por dar em mais atenção à tv, fosse o contrário e estaríamos dando emocionados discursos sobre as maravilhas televisivas.... É uma questão de prioridade, aliás, sempre é. Prioridade é basicamente a diferença entre o 'poder ser' e o 'poderia ter sido'.

    'E se' é, pra mim, um advérbio de frustração, huahauha. Não é como se desse pra levar uma vida nisso,claro, mas é uma revoltante e inevitável maldição que rodeia a mente dos insatisfeitos

    Meu vernáculo conhecido bem que poderia ser editável. Arrancaria essa expressão de lá com os olhos radiantes.

    Já ouvi falar num dialeto africano que não o possui - o faz ou não faz as coisas. Genial, são mais felizes. Emenos arrependidos, me peguei imaginando o que seria pregar o envagelho a um povo desses...

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  10. É o que sinto quando termino de ver um filme do 007. Aliás, a catarse é isso, né? Conversávamos sobre ela outro dia. Não importa se por livro, canção ou filme, ela é sempre muito rápida. Mas muito divertida e prazeirosa, sem dúvida.

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  11. É, pelo menos uma parte dele - seria 'o não ser'. Não chega a ser o pior problema...

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