quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

No compasso

Acorda e liga e despe e lava e seca e veste e come e sai e anda e lembra e volta e pega e corre e chega e senta e faz.

Confere e erra e tenta e ajeita e perde e cansa e conta e torce e abre e manda e pega e fecha e joga e amansa e acena e vai.

Compra e avisa e cumpre e abraça e beija e agrada e dá e fala e ouve e janta e vê e bebe e escreve e tranca e rola e vela e pensa e...

A noite cai. Todos dormem, cada pensamento passa a ecoar preguiçosamente nas paredes vazias da casa. A opressão do tique-taquear, ofuscada pela imobilidade ilusória. O Verbo, longe de seus semelhantes, não está mais tão só, ainda que isso não seja uma solução. Até amanhã, quando talvez seja.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Tic tac

E no bar, nas cicatrizes da cadeira, na música rouca e acrônica, nas rugas de quem me serve a cerveja, no ruído empoeirado do ventilador... das palavras com significados mais densos e universais, uma se permite o posto de imperador: tempo.

Meia hora depois um dos homens cinzentos de Michael Ende, com maleta, cigarro e chapéu faz-me companhia e contas, oito horas de sono, uma e meia pra refeições, três horas naquele seu vagar irreal dentro dos ônibus, mais tanto fazendo isso e aquilo outro... indo direto ao ponto, tempo, muito tempo à toa, muito pouco tempo para ficar à toa.

E dessa vez não tenho resposta. Assim como em todas as outras.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Re-volta

- É preciso fazer.
- O quê?
- Não sei. Mas é preciso.
- Quem?
- O quê?
- Quem precisa?
- Não sei. Alguém. Todos
- Você?
- É, preciso fazer.
- Alguma coisa.
- Ein?
- Quem faz, faz alguma coisa. Verbo transitivo, sabe?
- Mas eu não fiz nada. Preciso fazer. Nesse caso é intransitivo.
- Por quê?
- Não sei. Mas é.
- Oras, você não sabe nada.
- Sei, sei sim. Sei que preciso fazer.
- Isso não é muito preciso.
- É sim. Essencial, eu diria.
- Me refiro a não ser certo.
- E por que seria errado?
- Não é errado. Não é exato.
- Quem falou em ser exato?
- Eu. Exato, certo... preciso.
- Também.
- O quê?
- Também preciso.
- Eu não disse que precisava.
- Eu sim.
- Fazer?
- O quê?
- Não sei. Um "fazer intransitivo" talvez...
- Meu "precisar" é intransitivo.
- É?
- "É" também pode ser.
- Como assim? "Eu sou"?
- É.
- Você é louco.
- Não, eu sou.