terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Heróis da banalidade

Hoje não continuo minha história. Se houvesse alguma urgência em qualquer destes textos, diria ser o motivo da pausa. Hoje não narro, falo sobre.

Ao conhecer alguém, noto, ainda que distraído, seus gestos, suas expressões prediletas, seu tom de voz, pequenos detalhes de aparência, compilo tudo numa impressão única que, em pouco tempo, torna-se uma personagem capaz de substituir completamente o indivíduo real. Puro instinto. Injusto? Talvez, não importa - não me importa. Não chega a ser diferente dos métodos mais usuais de julgamento, e um tempo acontece, em que se precisa deles.

Mas admito haver uma anomalia: por vezes descubro, assim de soslaio, um brilho no olhar, algo que lança por terra o mais meticuloso estudo sobre quem vem a ser tal pessoa - é rápido e, creio eu, perceptível apenas aos que também o possuem. Não é inteligência, nem decisão, longe de ser qualquer daqueles conceitos abstratos tipicamente estampados nas camisas, ocultos em caracteres japoneses; está entre prazer mórbido e efêmera plenitude, uma espécie de transpirar da alma, querer por querer - só por poder querer, sem vaidades.

São daquelas pessoas que, de súbito, correm para onde estão viradas - e não adianta perguntar o porquê; acredite, não foi energia gasta à toa. Elas não se concentram: redirecionam a vida momentaneamente para aquilo que lhes interessa, e se pegar aquela insignificante bolinha no ar é subjetivamente importante, o corpo normalmente mole e arrastado salta rijo num bote, rala e rola metros adiante, termina estirado ao chão... com o objeto em mãos. Ou não - a grandeza estava em tentar. Venha com sonhos distantes e ela pergunta: como eu começo? Depois o mundo desaba, e depois é um outro dia.

Afinal, como julgar o que apenas é?

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