terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Febre

E então, descobriu O Segredo, desvendou o mundo.

E agora sabia tudo. Compreendia minuciosamente os processos mais complexos e, acreditem, os mais simples. Entendia quem era, de onde vinha e para onde ia. Entendia as mulheres. O valor de pi tornou-se tão banal quanto as regiões além do sistema solar. Poderia precisar em segundos qualquer viagem para todo lugar. Poderia provar a existência ou não de Deus e de um amor verdadeiro.

Tamanho conhecimento adquirido após virar aquela chave levaria anos para se estruturar compreensivelmente em seus pensamentos. E assim o fez.

E a última coisa que aprendeu foi o tédio do Saber. Acabou qualquer expectativa - não havia cara-ou-coroa, apenas o resultado correto. Cansou-se do seu passado maquiado de futuro, surgiu a angústia, o ultra-ego. Já não era capaz de se comunicar com outros, sabia demais, sentia-se um Prometeu sem humanidade. Se embriagava, tentava enganar consciência e memória, brincava de roleta russa enquanto cantarolava um solo improvisado de dois meses a frente, na esperança de se distrair, de errar. Não acontecia.

E enrijeceu, emudeceu, se isolou. Petrificou sentado num banco de praia, olhando as ondas...

3 comentários:

  1. eu juro que me veio a cabeça a imagem daquela estátua do carlos drummond de andrade que tem sentada na orla, mas ela tá de costas pro mar.

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  2. Talvez porque pro Carlos Drummond nem o mar mais era atraente, hehe.

    Excelente texto, me lembrou de algo que li do Schopenhauer, sobre como o homem sempre estaria fadado a algum tipo de sofrimento. Se tudo lhe fosse muito fácil, como você mesmo disse, viria o tédio, e se o tédio não existissem viriam outras dores e desesperos. Pois é, estamos fadados a vida...

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  3. Conheço histórias semelhantes... XD

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