sábado, 6 de dezembro de 2008

Tintas e agulhas

Quando notou o quadro, já o estava observando há algum tempo. Nuvens, muitas delas, alguma coisa ao fundo, verde... uma árvore talvez? Sim, deveria ser. Não fosse, passaria a ser. Mesmo porque, tem a impressão de que já viu esse lugar antes. Já viu?

Sim. As coisas não estavam mais claras, porém já tinha algum vago objetivo e isso é o bastante. Vai para a porta de saída: por um momento, sabia para onde ir. Sorri, abre a porta.

Vai-se o sorriso. Uma rua larga cismava em se esticar para que não lhe vissem as pontas: parecia invejar o céu, que era infinito. O cinza dos muros não dava espaço para árvores e as únicas nuvens que via se escondiam em sua mente, enquadradas. Decide pelo único caminho cujo fim era possível, ou pelo menos visível. Tendo atravessado a rua, com passos de quem está perdido em pensamentos - ainda que estes não existissem de verdade - descobre um varal com roupas descoloridas. E movimento, alguém! Ele surge por detrás das camisas, lança um olhar desinteressado, coça o bigode grisalho, cata uma meia no balde e continua sua tarefa.

Que faria agora? Não é como se pudesse chegar até ele e perguntar - Quem sou eu? Pode me contar um pouco da minha vida, se não estiver muito ocupado? Posso te ajudar com essa roupa enquanto isso. - Esfrega as mãos, funga, olha em volta, suspira; definitivamente não sabe o que fazer. - Bom dia - Tinha percebido o nervosismo? Continuou seu trabalho.............?................?! - Moça, que foi?
- Sou nova por aqui, estou meio perdida...
- Tá indo pra onde?
- Err... (procuro um lugar que vi num quadro, sabe? Uma árvore e umas nuvens, muitas aliás... conhece?) Procuro um pintor. Conhece algum por aqui?
- Pintor? Pintor... não lembro.
- Sei como é.
- Disse algo?
- Não, de qualquer forma, deixa pra lá, obrigada.
- Ah! Peraí, se você seguir essa rua um tempo, pela esquerda, assim, tem uma cabana, cabana mesmo, de madeira, não muito longe, lá você talvez encontre alguma coisa, logo ali.

Agradece e se afasta. Não deve ser difícil de achar, as casas aqui são todas iguais. Vale a pena averiguar, afinal, é logo ali.

Ainda não, talvez seja um pouco mais adiante.
Nada ainda
Nada
...
Logo ali, ein?
...

O lugar distoava dos demais, os desenhos coloridos por toda a parede pareciam de outro mundo e a porta aberta parecia um sinal de boas-vindas. O importante era mesmo ter algum lugar para ir: não tinha a menor noção do que estava procurando. Entra.

continua...

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